domingo, 12 de agosto de 2012

O melhor café da cidade, Kássia Ferreira.

Não é uma historia de amor. Porquê o amor já caiu em meio ao vão, porquê o amor faz doer e muitas vezes ele finge ser, e as vezes não é. É, sou complexado, egocêntrico, viciado na solidão, e o pior de todas: tenho medo do amor, se é que ele exista. Dizem por ai que amar esquenta o coração. Só vejo pessoas chorarem. Contraditório não é? Dizem que amar faz bem para a saúde, para pele, cabelo, te faz sorrir mais, viver mais. Mas eu, que nunca amei, só vejo pessoas com olheiras de choro. Pergunto o que é e elas respondem “é culpa do amor“. Vai entender esses humanos. De tanto falar de amor, esqueci da minha historia que não é de amor. Mas se não é de amor, é de que? Esquece. Eu gostava de ir em uma cafeteria, não sei se era mania, falta do que fazer ou porquê gostava do café de lá. Todos os dias, exatamente ás 8:10 eu me sentava nas cadeiras de frente para avenida. Bebia o café vendo os carros passarem. Monótono, mas era assim que meu dia começava. O café me deixava acordado pelo resto do dia e fazia eu aturar todos os seres humanos que me rondavam. Nessa manha eu me atrasei, ou seja, meu dia vai ser uma merda, não muito pior que os outros dias, mas tenho certeza que vou sentir vontade de me matar todas as vezes que alguém falar comigo. Sento na mesa de sempre, e peço o de sempre “o de sempre?“ “sim, o que eu sempre peço“ “mas eu não sei o que você pede“. Levantei o olhar. Garçonete nova. Não me estresso, não fico com vontade de me matar, só peço o meu cafe sem açúcar. A nova garçonete que não sei o nome e provavelmente nunca perguntaria me fez prender a respiração por alguns segundos, era tão mais bonita que todas as garotas que conheci. Me perguntei o porquê dela estar numa cafeteria, servindo cafés para pessoas mau humoradas como eu. Por incrível que pareça, meu dia não foi tão ruim. Volto na cafeteria as 8:10, mas diferente dos outros dias, me sento de frente para o balcão. O que eu estou pensando? Estou querendo paquerar a garçonete? Provavelmente, ela me processaria por assedio em local de trabalho. “Imagino que seja o de sempre“. Ela é esperta, a antiga garçonete sempre me perguntava oque eu queria para beber. “café sem açúcar“. Ela sorri como se entendesse. Ela sorrindo conseguia ser ainda mais bonita. Durante os próximos meses me sento em frente ao balcão, as vezes chegava até mais cedo e pedia o de sempre, mas agora com um colher de açúcar. Sou um pessoa sem talento algum com garotas. A meses estou de olho na garçonete, não perguntei seu nome ainda e nem sei se ela está disponível para mim. Observava ela atrás do balcão, nunca consegui ver todo o seu cabelo, mas compensava quando ela virava de costa e eu via sua parte de trás, não me leve a mal, ela era linda de todos os ângulos. Eu tenho que chamar ela para sair. Ok, eu vou consigo fazer isso. Chego perto. Que tipo de cara eu sou? Não consigo nem chegar em uma garota sem corar. “Outro café, Jorge?“ Penso em dizer sim, mas assusto quando percebo que eu nunca disse meu nome a ela. “Sabe meu nome?“ “hm - ela cora sem ver - conheço um amigo seu“ “você andou perguntando por mim?“ Ela cora novamente, estou deixando a moça garçonete constrangida. Ela não responde. Eu não falo nada. Eu tenho que falar algo, os homem tem que ter atitude, não é mesmo? Quase me belisco, tenho vontade de me dar um tapa na cara, a garota ali, na minha frente, pronta para aceitar o meu pedido para sair. Ela olha para mim e sorri. É agora. Quase crio coragem, mas ela fala primeiro “está livre sábado a noite?“ Não sei se fico feliz por ela ter me poupado de ter pedido ela para sair ou envergonhado por ela ter tido a atitude que deveria ser minha.“Estou. Hm, está me chamando para sair?“ “Acho que sim, você demorou demais´´ Eu sorrio pela primeira no dia. Ela pega a minha mão e escreve seu numero e nome. Minha pele formiga com o toque, ela escreveu oito numero da loteria em minha mão. Com a letra delicada ela escreveu seu nome. Rachel. Ligo para ela mais tarde, lembro que hoje é sexta-feira. Amanha vou sair com a garota de nome estrangeiro. Ela disse que morava em um apartamento a uma quadra dali. “Ap. 307“ digo ao porteiro. “307?“ Ele pergunta como se ninguém morasse lá. Faço que sim. Ele liga e diz que um cara estranho está procurando por ela. Penso que ela não vai me deixar subir. “Sobe“. Bato na porta duas vezes. Ela não pode pensar que já estou louco nela. Ela abre a porta. A primeira coisa que olho são seus cabelos, pois nunca pude vê-los soltos, eram cor de caramelo e combinavam perfeitamente com seus olhos. Olho ao redor, uma casa simples, mas cheia de livros. Pergunto se ela gostar de ler, ela diz que os livros a salvaram. Outra vez ela toma a atitude, se oferece para dirigir o meu carro. Eu tenho ciumes dele, mas eu a deixei dirigir. Pensei que ela fosse me levar para jantar ou algo do tipo, mas paramos em frente a uma boate. Ela não me deixou pagar sua entrada, provavelmente ela não me deixaria pagar nada. “suponho que vivemos beber“ “não bobo - ela diz bem alto por causa da musica- viemos dançar“ “eu só danço quando estou bêbado“. Pego uma bebida e volto para a pista. Vejo ela dançando sozinha. E bebo varias, quero dançar com essa garota. Eu danço, mas eu nem gosto de dançar. Essa garota de nome internacional, me levou em uma boate pela primeira vez e eu não achei tão ruim como imaginava. Já estou em casa, ela me trouxe, pois eu bebi muito e não estava em condições de dirigir. Resolvi que era a minha vez te ter iniciativa. Volto na cafeteria, ás 7:10, não pude esperar mais uma hora. Eu a chamo para sair. Meu coração quase saiu pela boca, mas ela acetou e disse: “você gostou de mim, não é mesmo?“. Da até tremedeira só de pensar que gosto de alguém. Eu tenho medo do amor. Mas eu preciso arriscar ou vou ser sempre um cara fracassando e viciado em solidão. Chego no apartamento dela, o porteiro me olha e levanta a sobrancelha e me manda subir. Dessa vez dou três batidas na porta. Quando ela abre, a vejo de cabelo bagunçado, short e blusinha de renda. “Desistiu de sair comigo?“ Digo desapontado. “Não. Eu quero que você fique aqui hoje“ Não sei o que ela quer dizer com isso, não discuto, quero ficar a sós com ela. Ela senta ao meu lado, bem ao meu lado mesmo. Seus olhos estavam triste. Percebi que andou chorando. “hoje eu terminei meu namoro“ Foi um tapa na minha cara. Estava saindo com uma garota que tinha namorado. “Estava namorando e saiu comigo?“ Digo, tentei não parecer nervoso, mas ela logo percebeu. “ei, eu terminei por causa disso“ Ela ficou me olhando, o que pareceu uma eternidade. Ela chegou mais perto, depois mais um pouco. Passou a mão pelo meu rosto e eu a beijei. Qualquer cara normal, teria ido embora quando soubesse que ela estava saindo comigo e com outro. Beijei devagar, depois mais rápido. Ela sentou no meu colo, ficando cada vez mais colada em mim. Eu não sei o que teria feito a seguir, mas ela se levantou bruscamente. Parecia envergonhada, mas não arrependida. Prometi voltar outro dia e prometi silenciosamente voltar sempre. A garota de nome internacional estava fazendo eu me apaixonar por ela, mas ela nunca irá ficar sabendo disso. Eu, de maneira alguma, queria amar agora. Mas queria, incontrolavelmente amar aquela garota. Ela fazia o melhor da café da cidade. Tinha o melhor beijo (só a beijei uma vez). Eu queria voltar naquele apartamento e dizer a ela que está me deixando louco. Pessoas como eu enlouquecem rápido. Não volto a cafeteria por uma semana, acho que estou sóbrio de novo. Aquela garota fazia minhas mãos soarem e minha barriga gelar, me fazia imaginar ela comigo, e eu sinto medo dessas coisas. Ouço quatro batidas na porta. Estranho, ninguém nunca, nunquinha me visita. Era ela. Estava tentando me enlouquecer de novo. “Você prometeu voltar“ ela diz. Não sou bom com promessas, amor. Penso em dizer, mas tudo o que conseguir fazer foi pegar suas mãos. Ela entra, senta e olha para o nada e depois para mim. Eu sempre fugi de tudo, fugia até do que, talvez, poderia me fazer feliz. Dela eu não conseguia. Eu queria que ela me conhecesse, conhecesse meu quarto, minha cama, que ela me ensinasse que o amor é bom, que o amor não faz doer. Quero beber todas os dias o café dessa garota. Que ela me ensine a não ser triste. Dessa vez eu não fugi e hoje eu apresentei minha cama à ela.
  

Nenhum comentário:

Postar um comentário